A prevenção e o combate à violência doméstica mantêm-se activos em fase de isolamento

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15 Abril 2020

“A família é o lugar do paradoxo. Centroda afeição, refúgio contra a adversidade, é também o foco principal daviolência, o único lugar onde cada um pode descobrir, sem disfarce, a suaverdadeira face… Mas a violência contra os membros de uma mesma família é algodo qual não se costuma falar: ela ésecreta e vergonhosa.” (Chesnais, 1981)

Agora mais do que nunca, estaafirmação ganha contornos de maior gravidade: a violência domésticaconstitui-se como um crime que ocorre principalmente no contexto habitacional, entrequatro paredes, onde os agressores deixam cair a máscara e revelam a suaverdadeira identidade, longe dos olhares de potenciais testemunhas que ospossam denunciar.

Por Diana Silva, Criminóloga (CooLabora)

Para muitos/as a casa é um contextoseguro e de partilha de sentimentos positivos e a pandemia e o cenário deemergência nacional que actualmente se vive em Portugal – e no Mundo -trouxe-nos a todas e a todos imposições sociais de confinamento habitacional.Para as vítimas trouxe igualmente o agravamento contextual do principal espaçojá de si inseguro, uma vez que agora se vêm isoladas, 24 horas diárias, com osseus agressores. A par disto, a casa também se torna um espaço de maiorinsegurança para os/as filhos/as que, por estarem também em isolamento, poderãotentar intervir mais no sentido de protecção das mães e, por isso, correr maisriscos individualmente.

Por tudo isto, é importante que asvítimas não se sintam desprotegidas e que se reforce que as estruturas deatendimento e acolhimento que constituem a Rede Nacional de Apoio às Vítimas deViolência Doméstica continuam a funcionar, embora de forma adaptada aosconstrangimentos nacionais que se vivem. Há contactos disponíveis para aintervenção que se revele necessária.

Continua a ser possível retirarvítimas de casa com o apoio das forças de segurança (que permanecem activas 24horas por dia) para integração em respostas de emergência.

Nesta fase é ainda muito importantepassar a mensagem às vítimas para que assumam algumas medidas de segurançatambém adaptadas ao contexto de emergência e isolamento nacional, por exemplo:combinar uma palavra código com familiares, amigos/as e/ou vizinhos/as deconfiança para enviarem por sms caso estejam em perigo (é mais simples do quefazer chamada); combinar com vizinhos/as um sinal de ajuda para que chamem asautoridades policiais (por exemplo, abrir uma janela específica, por um pano àjanela, acender e apagar a luz 3 vezes,…); dar os principais contactos telefónicosde apoio aos/às filhos/as para que em situação de conflito possam chamar asautoridades; ou tentar passar o período de isolamento na residência defamiliares e amigos/as de confiança.

Agora mais do que nunca éfundamental que todas e todos nos mantenhamos atentas/os e denunciemosqualquer situação na nossa vizinhança para que as vítimas possam ter o apoionecessário!