Pandemia e emoções

Opinião
18 Janeiro 2021

Sebastião Pimenta (Licenciatura em Filosofia via ensino, professor na ESCM – Covilhã)

De acordo com uma sondagem da Aximage para o JN e a TSF (dezembro, 2020), a pandemia Covid-19 afeta 55% dos inquiridos que revelam sofrerem um impacto grande ou muito grande na saúde e bem-estar emocional. (1)

Entenda-se: na atualidade, a perceção pessoal e social do contágio efetivo ou de modo latente, o alarme diário das notícias relativas ao efeito pandémico e a ausência de cura imediata contra a ação galopante do novo vírus alteram o estado emocional de qualquer pessoa minimamente consciente do problema.

O tema da Pandemia e Emoções passou a ser o foco de análise e de intervenção nas diferentes áreas da Psicologia, que é o assunto que me traz aqui. Claro que também se tornou a principal preocupação dos agentes políticos, económicos, culturais e ainda, de modo mais urgente, nos serviços de saúde pública. Porém, interessa sobretudo compreender os efeitos psicológicos da pandemia no público em geral e, desse modo, mobilizar estratégias terapêuticas de superação das adversidades para que cada pessoa consiga reconstruir-se face ao turbilhão de emoções provocadas por esta «nova normalidade».

Medo, angústia, desconfiança, culpa, depressão, stress, irritabilidade, insegurança, carência afetiva, etc., são as principais emoções e sentimentos vivenciados por cada um de nós, salvaguardando as devidas diferenças consoante os contextos de vida, afetando diretamente a saúde física e o bem-estar emocional, as relações laborais, as expectativas individuais e o modo como nos relacionamos com o outro. A este propósito, convém evitar reações que eu designaria por «síndrome da lepra», atitude que muitas pessoas revelam perante a possibilidade de contrair infeção, sua ou de algum familiar próximo, com o receio de estigmatização social da pessoa infetada! Recordo episódios análogos retratados nos livros de História, mas recomendo, em substituição, a leitura do «Ensaio sobre a Cegueira» (Saramago, 1995).

Perante este quadro emocional de alteração das condições de vida face à pandemia Covid-19, é necessário recorrer a múltiplas terapias de compensação para repor a saúde mental no seu estado «normal»: muitos se têm socorrido da arte-terapia, das redes sociais do mundo digital, das caminhadas na natureza, do voluntariado, do empreendedorismo social, do reforço dos laços familiares e de amizade, entre outros meios de abnegada resiliência perante as adversidades. Não devemos, no entanto, por de parte o apoio técnico e humanista de uma boa equipa de profissionais de saúde (psicólogo, médico de família ou de outra especialidade médica recomendada).

(1) https://www.jn.pt/nacional/pandemia-arrasa-com-o-bem-estar-emocional-dos-portugueses