As histórias que os números não contam

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26 Setembro 2023

A violência doméstica continua, pelos piores motivos, a ser tema nos meios de comunicação social e no trabalho diário de centenas de instituições nacionais de apoio a vítimas.

Os dados nacionais indicam um aumento dos casos denunciados em Portugal no primeiro semestre de 2023 – com mais 490 queixas na GNR e na PSP do que em igual período de 2022. Esta tendência tem-se verificado também no Gabinete de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica da CooLabora que, entre processos novos e de continuidade, até 31 de Agosto, registou 217 vítimas atendidas.

Mas os números frios e objectivos não nos desocultam as realidades de sucesso das pessoas reais que diariamente nos procuram. Os números frios e objectivos não nos contam que a “Cristina”, que passados 2 anos de voltar para o companheiro agressor, nos voltou a pedir ajuda para sair de casa com os dois filhos pequenos e que, de Junho até agora, num trabalho conjunto com as forças de segurança, o IEFP, a Segurança Social e a Câmara Municipal, já conseguiu tanto: um trabalho (dois dias depois de ser encaminhada para o IEFP); os abonos de família que o companheiro sempre lhe havia negado; advogado para se poder divorciar e tratar das responsabilidades parentais das crianças; medidas de segurança para impedir o agressor de a voltar a maltratar; e está agora à espera de finalização do processo de atribuição de habitação social.

Os números também não nos deixam conhecer a história da “Catarina”, que ficou sozinha com três filhos, sem rendimentos e com uma doença crónica que não lhe permite trabalhar. A “Catarina” pôde ver a sua vida melhorar ao fim de 2 semanas quando, num esforço conjunto com a Segurança Social, se conseguiu que tivesse deferido o Rendimento Social de Inserção com carácter urgente, apoio alimentar e advogados/as gratuitos/as para seguirem com os processos judiciais de que precisava.

Os números frios e duros também escondem o alívio da “Sofia”, que nos pediu para sair de casa com uma criança bebé, com um agressor perigoso sempre atrás de si, a controlar, a perseguir, a fazê-la acreditar que tinha de voltar porque não ia conseguir sozinha. Mas conseguiu! Depois da nossa articulação com as forças de segurança, com o Ministério Público, e com a Segurança Social, a “Sofia” pôde voltar para a sua casa, porque o agressor foi obrigado a sair e está agora fiscalizado por pulseira electrónica para não a importunar mais; a “Sofia” tem agora advogada gratuita a tratar de tudo o resto, e a tranquilidade e segurança que sente foram as suas maiores conquistas de sempre.

A violência doméstica não significa só dados alarmantes e negativos. Com intervenções conjuntas e concertadas como as que a Rede Violência Zero mantém desde há 13 anos, a violência doméstica traz também finais felizes, histórias de luta e sobrevivência que merecem ser conhecidas e que nos motivam a continuar!