Quando a rede cai e a ligação vai abaixo

Opinião
20 Fevereiro 2021

por Marta Pereira Alves

Parece que, em geral, estamos de acordo quando afirmamos que o confinamento, com o encerramento das escolas, afeta todas as crianças, jovens e famílias de alguma forma. Mas, a desigualdade desses efeitos, que se esconde atrás das paredes das casas, parece não ser reconhecida nem compreendida na sua dimensão e complexidade.

Não se trata apenas de disparidades no acesso à ligação da Internet ou aos equipamentos informáticos – aliás, o ensino à distância, mesmo quando funciona sem barreiras técnicas, nunca abre janelas verdadeiras para o exterior. E, por isso, há outra rede que é quebrada, a das ligações entre a família, a escola e a comunidade e que é essencial para que o desenvolvimento do hardware cognitivo e emocional das crianças não fique comprometido.

Crianças, jovens e famílias com vulnerabilidades sociais e económicas estão mais expostas aos efeitos do confinamento e do afastamento do contexto escolar. É, por isso, fundamental que as pessoas que integram equipas de projetos de intervenção social e comunitária consigam manter-se atentas e próximas das crianças e adolescentes das famílias que não têm recursos suficientes para lidar com todos os problemas que um confinamento agrava e que, dificilmente, conseguirão adaptar-se e resistir à adversidade. É fundamental, mas não é fácil. Exige proximidade, criatividade e persistência.

E é por isto tudo (e muito mais) que quero, como exemplo, destacar um projeto que conheço de perto, o projeto Quero Ser Mais(1), um elo intermediador entre as famílias, a escola e a comunidade do Tortosendo, na Covilhã. À semelhança de outros projetos existentes no nosso país, o Quero Ser Mais impede que a tal ligação, essencial nestes dias de confinamento, se perca totalmente. Por isso, é necessário investir para o desenvolvimento e manutenção de projetos comunitários como este. Estes projetos merecem todo o nosso apoio e reconhecimento. Quem lá trabalha conhece as crianças e os jovens pelo nome, as suas qualidades e as suas fragilidades, o local onde moram, as suas famílias e os seus professores. Para além da escola, o projeto envolve autarquias, organizações da sociedade civil, associações empresariais, a CPCJ, entre outros. É preciso que a Escola continue a acolher estas crianças e jovens. Neste momento, mais do nunca, estas equipas são a rede que não pode cair e a ligação que não pode ir abaixo.

(1) Projeto promovido pelo Programa Escolhas, financiado pelo Estado Português e pelos Fundos Estruturais, no âmbito do Portugal 2020. Entidade Promotora: Agrupamento de Escolas Frei Heitor Pinto. Parceiros: Coolabora, CRL, Universidade da Beira Interior, Município da Covilhã, Junta de Freguesia de Tortosendo, CPCJ da Covilhã, AEBB – Associação Empresarial da Beira Baixa, Modatex – Centro de Formação Profissional da Indústria Têxtil, Vestuário, Confeção e Lanifícios, Centro de Convívio e Apoio à Terceira Idade do Tortosendo. Concelho de Implementação: Covilhã.